domingo, 11 de setembro de 2011



Só o coração pode entender
Tudo preparado para uma grande festa de casamento quando uma tragédia muda o plano dos personagens, o rumo de suas vidas e os enche de revolta. É preciso recomeçar. Retirar as pedras do caminho para prosseguir... Mas recomeçar por onde e com que forças? Então, quando menos se espera, as pedras do caminho tornam-se forças espirituais para ajudar quem precisa reerguer-se e reencontrar-se num mundo onde só o coração pode entender.

É preciso escutá-lo, é preciso aprender a escutá-lo, é preciso tirar dele as impurezas deixadas pela revolta, para que seja audível, límpido e feliz como nunca foi... Uma história verdadeira, profunda, real que fala direto ao coração e nos revela que o coração sabe bem mais do que pensamos, que pode compreender muito mais do que julgamos, principalmente quando o assunto for amor e paixão.



R$ 35,00


Se não amássemo tanto assim
No Egito antigo, 3400 anos antes de Cristo, Hazem, filho do faraó, herdeiro do trono se apaixona perdidamente por Nebseni, uma linda moça, exímia atriz. Com a morte do pai, Hazem assume o trono e se casa com Nebseni. O tempo passa e o filho tão necessário para o faraó não chega. Nebseni se vê forçada a pedir ao marido que arranje uma segunda esposa para poder gerar um herdeiro, algo tido como natural na época. Sem escolha, Hazem aceita a sugestão e se casa com Nofretiti, jovem apaixonada por ele desde menina e irmã de seu melhor amigo.
Nofretiti, feliz, casa-se prometendo dar um filho ao homem que sempre amou e jurando a si mesma destruir Nebseni, apagá-la para todo o sempre do coração do marido para que somente ela, Nofretiti, brilhe.
Mas pode alguém apagar do coração de um ser apaixonado a razão do seu afeto? Se não amássemos tanto assim é um romance comovente com um final surpreendente, que vai instigar o leitor a ler o livro outras tantas vezes.

R$ 29,90


Primeira Parte - Capítulo 1

Numa vida passada...
Paris, fim do século dezenove...
Os olhos de Veronique Lafayèt demoraram-se pensativamente no cavalheiro que subia as escadas. Seu nome Johan-Marcel Chevalier. Um homem bonito, distinto, o tipo de homem que enlouqueceria qualquer mulher, principalmente as inocentes.
– Com licença? – disse ela, polidamente.
A monumental figura voltou-se para Veronique e lastimou:
– Esmola, a esta hora, minha querida?! Faça-me o favor...
– Não, meu senhor, não venho lhe pedir esmola alguma.
O homem franziu as sobrancelhas com certa irritação.
– Diga logo a que vem, então.
– Meu nome é Veronique. Sou amiga de Pauline... Pauline Laroche.
– E daí?!
Pelo tom de Johan-Marcel, Veronique logo percebeu que ele não havia gostado que ela o houvesse procurado.
– É que Pauline não está nada bem, meu senhor. Caiu de cama há dias com uma febre muito forte... O médico até agora não sabe ao certo o que ela tem.
Ele a interrompeu sem nenhum tato:
– Então, queres dinheiro para comprar remédios para ela? Pois bem, vou te dar algum.
– Não venho em busca de dinheiro, meu senhor. Em absoluto. Vim apenas informá-lo do que se passa com Pauline... Talvez o senhor queira lhe fazer uma visita, o que seria muito bom, iria deixá-la muito feliz. Ela não para de falar no senhor... Está com saudades... Com ódio da doença que interrompeu os encontros entre vocês dois.
– Eu não ouvi direito. Não posso estar ouvindo direito. Estás querendo que eu visite uma mulher adoentada cujo mal não se sabe ao certo o que é? Pode ser transmissível, pôr em risco a minha vida, é isso?
De repente, Veronique não sabia mais o que dizer. O cavalheiro continuou no seu tom ácido:
– Sou um homem respeitado na sociedade, com uma esposa linda e saudável, tenho um nome a zelar, não posso me arriscar a ser contaminado por uma doença... ainda mais não diagnosticada.
– Mas eu pensei que amasse Pauline.
– Amar? E desde quando se ama uma amante? Já és grande o suficiente, minha jovem, para saber que amantes existem para os homens casados realizarem na cama o que não podem realizar com suas esposas... Terminado o intercurso, eles voltam para as suas esposas e filhos... é sempre assim, tolas aquelas que acreditam que com elas será diferente.
Ele enfiou a mão no bolso do sobretudo, tirou da carteira algumas notas e estendeu para Veronique.
– Tome, é para ajudar no tratamento da tua amiga.
Veronique olhou enojada para ele.
– O senhor não entende... O que Pauline mais precisa agora, neste momento, é do seu amor, do seu carinho, da sua presença, nem que seja por um ou dois minutos apenas. Nenhum remédio pode ser tão eficaz quanto uma palavra de carinho, um gesto, um beijo da sua parte.
– Dinheiro serve tanto quanto tudo isso que tu acabaste de falar.
– O senhor não pode estar falando sério.
– Chega de manha, menina, pega logo essas notas... Elas vão ser bem úteis para ti.
– O senhor tem muito a aprender sobre a vida.
– E tu tens muito a aprender sobre dinheiro.
– O senhor... O senhor é nojento... Tenho pena, muita pena de Pauline por ter se apaixonado por um mau-caráter como o senhor. Uma garota linda e inocente como ela não merecia isso. Eu a avisei, avisei o tempo todo que amante não tem vez... Mas ela não me ouviu... Que pena... Quis tanto poupá-la desse sofrimento, mas ela não me ouviu...
Ele soltou um riso, pareceu para ela ser de descaso, mas no íntimo foi de nervoso. Uma certa tensão, uma vibração esquisita circundou Johan-Marcel, provocando-lhe um arrepio estranho e diferente. Sem deixar transparecer o abatimento, ele reforçou suas palavras:
– Põe este orgulho de lado e pega este dinheiro, garota, vais te arrepender se não pegá-lo agora.
– Seria melhor que o senhor morresse para ela.
– Seria melhor, minha querida, que ela morresse...
– O senhor é cruel.
– Sou realista.
– Se houver justiça nessa vida, em algum lugar desse infinito, o senhor há de pagar pelo que está fazendo à minha amiga querida. Há de sentir na pele o mesmo que ela está sentindo. Há de sofrer o mesmo que ela está sofrendo.
– Não te esqueças, minha jovem, de que ela está sofrendo porque quis. Tu mesma disseste que a alertou.
Veronique baixou os olhos, não havia como contestá-lo. Ainda assim, sentiu um ódio profundo engrossar e ferver seu sangue. Em seguida, Johan-Marcel arremessou as notas contra ela de forma tão grosseira que por pouco não acertaram sua face. Mas Veronique desprezou o dinheiro, permaneceu olhando fixamente para ele, fulminando-o com os olhos. Ele cuspiu no chão, foi até ela, agarrou-lhe firmemente os braços e, mirando fundo em seus olhos, cuspiu-lhe as palavras seguintes:
– Não me causes problemas, garota, pois eu acabo contigo, sem dó nem piedade.
– Sei que é bem capaz disso. Disso e de muito mais.
– Agora, fora daqui! Fora daqui antes que eu perca a paciência contigo.
– O senhor vai se arrepender de tudo isso um dia...
Ele tornou a olhar para ela, pegou firme no seu queixo e o moveu conforme sua vontade enquanto dizia:
– Eu? Arrepender-me do que? Quando e onde um homem com uma casa maravilhosa como esta, rico, bem-sucedido nos negócios, com status social, precisa se arrepender de alguma coisa na vida? Onde e quando, responde-me?
Ele soltou o queixo dela bruscamente.
– Agora some daqui! Antes que o teu cheiro vulgar de cortesã de cortiço de lixo infeste a minha roupa e a minha morada.
Sem mais, Johan-Marcel deu as costas para Veronique e subiu o último lance de escada que levava até a entrada de sua casa.
Pelo caminho de volta para o cortiço onde ela vivia com Pauline Laroche, Veronique, por mais que tentasse, não conseguia tirar da cabeça a imagem de Johan-Marcel, tampouco o ódio que sentia por ele e que estava se alojando em seu coração, com uma vontade louca de ficar ali para sempre, ainda que o sempre se transforme sempre.


Livro "SEM AMOR EU NADA SERIA" LANÇAMENTO SETEMBRO DE 2011 - R$26,00. VISITE O SITE www.barbaraeditora.com.br

Capítulo 1

Viveck Shmelzer foi um dos muitos jovens alemães que se alistou ao partido nazista por acreditar que o nazismo poderia transformar a Alemanha num país mais próspero de se viver, imune a crise econômica que enfrentava devido a grande depressão que assolava o mundo nos anos trinta.
Ele, como muitos outros jovens alemães que se filiaram ao partido nazista, não faziam ideia do que era realmente o nazismo e onde ele os levaria. Eles só queriam um futuro melhor para si e para o país, onde pudessem prosperar e constituir família. Pouco se importavam com a existência de judeus, homossexuais, ciganos, testemunhas de Jeová, doentes mentais e crianças especiais sobre a Terra, mas foram obrigados a se voltar contra todos estes porque assim ordenava o nazismo.
Viveck Shmelzer era um rapaz no esplendor dos seus vinte e dois anos. Um metro e oitenta e oito de altura, porte atlético, tórax largo, cabelos de um loiro profundo, voz aveludada, um par de olhos azuis, como o azul das profundezas do mar.
O jovem soldado encontrava-se, no momento, na Cracóvia, cidade construída ao sul da Polônia, onde, em 1939, residiam 60.000 judeus. Um quarto da população total do país (250.000 habitantes nesta época) era composta de judeus.
Viveck havia sido enviado para lá para colher informações, sondar o terreno, como se diz, para que o exército nazista tivesse êxito no ataque ao país, algo que estava programado para acontecer em breve. Seria o primeiro passo de Hitler e suas tropas no propósito ambicioso de conquistar o mundo. O que daria início a Segunda Guerra Mundial.
Com ele fora também, Herbert Müller. Um rapaz de pele e cabelos tão claros que mais parecia um albino. Um jovem de QI apurado tanto quanto seu gosto refinado por mulheres.
Os dois caminhavam por uma das avenidas principais da cidade, jogando conversa fora, admirando com atenção os rostos das moças que transitavam pela rua. Moças cuja tez era tão clara e macia como uma seda, e os cabelos no tom do sol, ao cair da tarde. Rostos delicados, olhares tímidos, cheios de vida e juventude.
Viveck ria dos comentários pertinentes do amigo, Herbert Müller, a respeito das mulheres, quando seus olhos azuis, vivos e bonitos, avistaram uma jovem, saindo de uma loja de secos e molhados. Uma jovem que chamou muito a sua atenção.
Seu rosto era sensível e inteligente, a testa quadrada, as orelhas e o nariz de formato delicado, os cabelos de um loiro quase ruivo. Ela transparecia educação, contenção e algo mais, um potencial de paixão.
Subitamente, a risada alegre e efusiva de Viveck foi cortada ao meio. Em segundos, o rapaz se tornou a própria encarnação da curiosidade. Pediu licença ao amigo e seguiu na direção da jovem.
Herbert Müller levou tempo para compreender o que se passava com o colega.
Viveck aproximou-se, com cautela, da moça de beleza delicada, como se sua aproximação repentina pudesse assustá-la.
Quando ela avistou o rapaz loiro, de quase um metro e noventa, ombros largos, olhos azuis, penetrantes, vindo na sua direção, olhando para ela com interesse e carinho, seus olhos piscaram aflitos. Diante do seu olhar, Viveck deteve-se, quis deixá-la se acalmar antes de se aproximar, passou a mão no cabelo, procurou fazer ar de quem não quer nada. Por fim, aproximou-se.
– Olá – disse, com polidez.
A jovem observou-o com uma expressão nos olhos que ele jamais tinha visto, tampouco podia defini-la.
– Meu nome é Viveck. – apresentou-se, sorrindo, magnanimamente.
Nada mais que o silêncio por parte dela. Aquilo fez com que Viveck se sentisse constrangido, algo inédito, pois jamais uma mulher conseguira fazê-lo se sentir daquela forma.
– Posso ajudá-la a carregar as compras até sua casa? – prontificou-se ele, no seu tom mais gentil de se dirigir a uma mulher.
Ela abaixou os olhos, encabulada, enquanto ele permaneceu olhando para o seu rosto adorável, esperando que ela dissesse alguma coisa num tom tão doce e terno quanto o seu olhar. Como não disse nada, ele insistiu:
– Por favor, deixe-me ajudá-la.
Silêncio mais uma vez. Profunda indecisão por parte dela. Por fim, ela voltou os olhos para ele, com cautela, a mesma que usou para dizer:
– Foi muito gentil da sua parte vir até aqui se oferecer para me ajudar, mas obrigada, eu posso me virar sozinha.
Sua voz era delicada como o som de uma harpa, observou Viveck, encantado com os olhos presos aos dela, da mesma forma que os olhos dela se prendiam aos dele.
– Não receie a minha pessoa. – adiantou-se Viveck. – Nada de mal lhe farei. Não a conheço, ainda, mas só quero lhe fazer o bem. Acredite.
Suas palavras causaram grande surpresa na jovem, ela certamente não esperava por elas. Novamente o silêncio pairou entre os dois. Ele aguardou pensativo e pacientemente, ciente de que ela se perguntava naquele instante se deveria ou não confiar nele.
Os olhos dela voltaram a encarar os de Viveck, desta vez, porém, de forma bastante estranha, como se, de repente, ela houvesse sido invadida por uma tremenda tensão. E estava realmente tensa, por se ver perdida entre aceitar ou não a ajuda do rapaz que lhe era completamente estranho.
– Por favor. – tornou Viveck no seu tom de paz de sempre.
A jovem parecia continuar travando um duelo dentro de si, entre o “sim” e o “não”. Viveck parecia não se importar com a indecisão da moça, com o tempo que ela estava levando para se decidir. Mantinha-se ali, paciente, com o mesmo encanto no rosto, com a mesma determinação com que chegou até ela.
Depois de ela muito lutar foi o “sim” quem acabou vencendo no final, recolhendo o “não” as sombras. Quando Viveck viu os lábios dela se movendo para dizer “sim”, ele sentiu-se tocado na alma de forma jamais sentida, por mãos jamais conhecidas.
Ele, então, tomou duas sacolas das mãos dela e a seguiu.
Herbert Müller mantinha-se do outro lado da rua, olhando para o amigo, com um sorriso matreiro nos lábios, comentando consigo mesmo:
– É um sedutor nato.
Pela calçada, Viveck seguia calado, a jovem que tanto o tinha fascinado. Queria trocar algumas palavras com ela, mas esperou que ela dissesse alguma coisa, o que não aconteceu. As palavras só vieram quando eles chegaram em frente à casa da moça. Ela voltou-se para ele, com os olhos a ir e vir dos seus, e agradeceu a gentileza:
– Obrigada. Foi muito gentil da sua parte.
– Não há de que. – respondeu Viveck, seriamente.
Quando ele se aproximou dela para entregar-lhe as duas sacolas que carregara até então, ambos sentiram seus corpos se esquentarem como se uma chama houvesse sido acesa dentro de cada um deles, como uma febre que nos faz refém.
Os olhos dos dois se encontraram novamente e brilharam. Tornou-se evidente para ambos que haviam sentido alguma coisa se acender em seus corações naquele instante.
Um sorriso se insinuou nos lábios dele, o mesmo aconteceu nos lábios dela.
– Você deve ter percebido que não sou daqui... – disse ele. – Sou...
– Alemão. – adiantou-se ela. – Sim, percebi de imediato.
– Também... – riu, ele –, com esse meu sotaque carregado.
Ele escorregou a mão direita pelo pescoço, da altura do queixo até o Pomo de Adão, e acrescentou:
– Gostaria muito de poder revê-la, se possível... Se você quiser... se não se importar...
A resposta dela soou alta e precisa:
– É melhor não.
– Por quê?
– Alguns porquês não podem ser explicados.
– Pode me dizer pelo menos o seu nome?
Ela hesitou, mas disse:
– Sarah.
Ele sorriu, lindamente, e se despediu:
– Muito bem, Sarah. Foi um prazer conhecê-la. Até um dia, então...
Ela assentiu com o olhar, pegou as sacolas e entrou na casa. Viveck permaneceu ali, por alguns segundos, observando o caminho por onde ela havia seguido, inspirando o que restou do perfume dela pelo ar. Só então partiu de volta a rua onde havia deixado o amigo, esperando por ele. Seguiu todo o trajeto voltando, volta e meia, os olhos por sobre os ombros, na direção da casa de Sarah. Seu interesse pelo local era crescente, tão crescente quanto o interesse pela moça.
O rapaz assustou-se quando Herbert Müller aproximou-se dele, repentinamente e brincou:
– E aí, seu sedutor inveterado? Conquistou a moça?!
– Ainda não, Herbert!
– Não!? Ach! *Conseguiu pelo menos o nome dela, espero!
– Ah, o nome sim, é Sarah.
– Sarah?! – estranhou Herbert. – Sarah é um nome judeu bastante popular. Ela é judia, por acaso?
O sobrolho de Viveck alterou-se.
– Não. – respondeu secamente. – É lógico que não!
– Tem certeza?
– Não, mas ela não se parece em nada com uma judia. Judeus têm geralmente uma fisionomia bastante característica, o nariz é protuberante, tanto o dos homens quanto o das mulheres.
– Nem todos têm narigão, meu caro.
– É verdade, mas Sarah não é judia. Disso tenho certeza. Nunca me interessaria por uma judia.
– Espero mesmo que não. Seria um grande aborrecimento para você diante das circunstâncias atuais.


Livro "POR ENTRE AS FLORES DO PERDÃO" LANÇAMENTO SETEMBRO DE 2011 - R$19,90. VISITE O SITE www.barbaraeditora.com.br

No dia da formatura de segundo grau de sua filha Samantha, o Dr. Richard Johnson recebe uma ligação do hospital onde trabalha, solicitando sua presença para fazer uma operação de urgência numa paciente idosa que está entre a vida e a morte.
Como um bom médico, Richard deixa para depois a surpresa que preparara para a filha e para a esposa para aquele dia especial. Vai atender ao chamado de emergência. Um chamado que vai mudar a vida de todos, dar um rumo completamente diferente do almejado. Ensinar lições árduas...
“Por entre as flores do perdão” fará o leitor sentir na pele o drama de cada personagem e se perguntar o que faria se estivesse no lugar de cada um deles. A cada página viverá fortes emoções e descobrirá, ao final, que só as flores do perdão podem nos libertar dos lapsos do destino. Fazer renascer o amor afastado por uma tragédia.
Uma história de amor vivida nos dias de hoje, surpreendentemente reveladora e espiritual.

Américo Simões

Por entre as flores do perdão



Capítulo 1

Estados Unidos, Chicago, 2000
Nos Estados Unidos da América o outono começa em 21 de setembro. Em novembro, ondas de frio já se espalham pelo ar de forma bastante intensa. No fim do mês, em certas regiões, já se pode ter os primeiros dias de neve.
Richard Johnson, homem alto, de meia-idade, com cabelos grisalhos, rosto corado e jovial estava em sua casa, construída num bairro nobre da cidade, admirando pela janela da sala de estar, os primeiros flocos de neve da estação.
Os olhos profundos, de um azul esverdeado, sob as sobrancelhas regulares e escuras, transparecendo brilho e a chama da inteligência olhavam com admiração para a neve se espalhando lá fora.
Sua boca grande, curvava-se ligeiramente para cima, denotando prazer e alegria por assistir tudo aquilo. Foi o único hábito de criança que ele manteve ao longo da vida: parar, estivesse fazendo o que estivesse, pelo menos por cinco, dez minutos, para admirar a chegada da neve. Toda vez que isso acontecia, ele voltava um pouco a ser criança, aquele menino que desde muito cedo, já se interessava por medicina.
Vivia operando, de mentirinha, seus bonecos de pelúcia e as bonecas das primas e das amiguinhas. Os cachorros dos colegas, vizinhos e familiares quando se machucavam, era ele próprio quem fazia questão de por o remédio necessário e fazer o curativo se fosse preciso um. Até mesmo na família, quando um deles adoecia, era Richard quem se incumbia de cuidar de todos.
Por isso, não foi nada difícil para ele escolher qual carreira seguir no futuro. Desde muito tempo, ele sabia, que seria medicina. Seu empenho nos estudos garantiu a conquista de uma vaga numa das melhores faculdades de medicina dos Estados Unidos. Foi o pai, quem bancou, com grande gosto, o custo dos estudos. Morreu feliz, dez anos depois do filho ter se formado, por ver o destaque que Richard vinha conseguindo na sua área.
Seu sucesso não se dava por acaso, era por mérito que ele conquistava tudo o que vinha conquistando. Porque procurava se atualizar constantemente, para estar sempre por dentro dos avanços da medicina, dedicava-se de corpo e alma ao trabalho, como poucos, uma devoção à profissão não por dinheiro, mas por paixão.
Quando um paciente ou um familiar deste, chegava nele, e o agradecia por seu excelente empenho como médico, Richard compreendia o quanto valia a pena a sua dedicação ao trabalho.
Richard não se tornara querido por seus pacientes somente por salvar suas vidas, mas por ter uma alegria e uma vitalidade cativante, ser uma daquelas pessoas que se dá gosto de estar ao seu lado, cuja presença alegra o ambiente, afasta qualquer névoa da tristeza.
Esse era Richard Johnson, 43 anos. Cidadão americano, orgulhoso do seu país.
O silêncio da sala onde Richard se encontrava foi quebrado quando Samantha, sua filha única com Geórgia, esposa amada, entrou no aposento, chamando, baixinho, pelo pai. Richard voltou-se para ela, com um sorriso bonito, florindo nos lábios e perguntou:
– Sim, Sam, o que é?
Sam era o apelido de Samantha.
A jovem girou lentamente o corpo, para exibir o vestido bonito que usava.
– O que achou, papai? – perguntou.
O sorriso nos lábios de Richard se engrandeceu.
– Você está linda, filha.
A filha deu uma nova volta e tornou a perguntar:
– Seja sincero, papai, você gostou mesmo?
Os olhos do pai se encheram d’água.
– Já disse, honey, você está linda!*
Os olhos claro e vivos de Samantha, olhos bem parecidos com os do pai, pareceram ficar mais claros, de alegria, profunda alegria. Ela foi até o pai e o abraçou, forte e carinhosamente.
– Oh, papai, como eu amo você!
O pai foi recíproco:
– Eu também, Sam, eu também amo você, honey.
Samantha Galvani Johnson, carinhosamente chamada por todos, quase todos, de Sam, era uma jovem que acabara de completar a sua décima oitava primavera. O rosto era sensível e inteligente, a testa arredondada, as orelhas e o nariz num formato delicado e os cabelos de um louro avermelhado. O traço seu que mais despertava atenção eram os olhos claros, de um azul de porcelana, muito semelhantes aos do pai. Era, enfim, uma jovem com rosto de boneca. Uma criatura sensível, revelando primorosa educação e um enorme potencial para a compaixão.
Quando o abraço entre pai e filha se desfez, Richard puxou Samantha pela mão até a janela para que ela também pudesse testemunhar os primeiros flocos de neve cobrindo o jardim.
– Logo, tudo ficará branquinho, branquinho... – comentou a jovem, com doçura na voz.
– Quando eu era garoto eu e meus amigos mal víamos a hora da neve cobrir tudo para que pudéssemos montar bonecos de neve, castelos, tudo o que fosse possível.
– O senhor sempre gostou desse momento, não papai? Digo, o momento em que a neve cai pela primeira vez.
– Acho que é porque me remete aos meus bons tempos de criança, filha. É o único dia em que eu consigo me sentir criança outra vez. Atravessar o portal do tempo, voltar ao passado. Acho mesmo que essa admiração pelo primeiro dia de neve da estação, é influência dos meus pais. Falo sério, lembro-me como se fosse hoje, que assim que minha mãe ou meu pai notavam que estava caindo os primeiros flocos de neve da estação, tanto um quanto outro dizia a toda voz:
“Virginia está nevando!”.
Ou minha mãe dizia:
“Bill, a neve! A neve chegou!”
Era um momento de festa para os dois. Eles então passavam a noite tomando vinho, comemorando a chegada da neve. Era sempre um momento muito querido por todos em minha casa.
“Assim que a neve se acumulava sobre o solo, começávamos a montar bonecos de neve. Perto do natal, nosso jardim, já estava repleto deles. Era a casa do bairro e, acredito, até mesmo da cidade, que mais bonecos tinha em seu jardim. O coral da igreja reservava sempre uma noite, as vésperas do natal para se apresentar em frente a nossa casa e boa parte da vizinhança vinha assistir o grande momento. Era uma noite de festa.
“Ao fim da grande noite, quando eu já me encontrava em meu quarto, embrenhado debaixo das cobertas, meu pai sentava-se na pontinha da cama, olhava para mim e dizia:
“– Nunca se esqueça, Richard.
“Ele sempre me dava o mesmo conselho todo ano, levou tempo para eu perceber isso. Ele dizia:
“– Eu e sua mãe nos tornamos adultos, mas não é porque nos tornamos adultos que deixamos de fazer meninices, criancices... Tal como montar bonecos de neve, vesti-los com os acessórios mais engraçados para deixá-los ainda mais bonitos e divertidos...
“O inverno nunca será triste se você aprender a fazer coisas que o tornem alegre. Nada, nunca será triste se você se dispuser a combater a tristeza com uma boa dose de alegria.
“Eu, então, prometia a ele:
“– Eu não me esquecerei, papai.
“Papai, então, me dava um sorriso bonito, beijava a minha testa e completava:
“– Boa noite, Richard, tenha bons sonhos.
“– O senhor também, papai.
Em seguida, apagava a luz e deixava o quarto, encostando a porta assim que passava por ela. Eu ficava ali olhando para a janela, rememorando os conselhos do meu pai e os que minha mãe me dava. Conselhos que fizeram grande diferença na minha vida.


Livro "NENHUM AMOR É EM VÃO" LANÇAMENTO SETEMBRO DE 2011 - R$24,50. VISITE O SITE www.barbaraeditora.com.br

Primeira parte

A família de Valeriano da Silva era composta de quatro pessoas: o próprio Valeriano, sua esposa, Vicentina Santos da Silva, e as filhas Silvana e Juliana. Moravam no sítio de dez alqueires que Valeriano recebeu do pai, para garantir o seu sustento, após ele se casar com Vicentina. Terras produtivas, situadas às margens do rio Paranapanema, no estado do Paraná, Brasil.
Não havia nenhuma cidade nas proximidades, apenas um vilarejo chamado Lagoa Serena, onde havia uma farmácia, uma loja de secos e molhados, uma escola e uma igreja católica que todos os moradores das fazendas e sítios da região frequentavam, especialmente nas manhãs de domingo.
Valeriano era um homem batalhador. Não tinha tempo ruim com ele para trabalhar. Por não ter condições financeiras para contratar funcionários para ajudá-lo no sítio, ele próprio procurava dar conta de tudo que era necessário ser feito ali. Nunca estava de mau humor, tampouco cansado, tampouco abria a boca para reclamar da sobrecarga de trabalho.
Vicentina procurava ajudar o marido no que fosse preciso. Cuidava dos afazeres da casa e quando sobrava tempo, ajudava o marido na roça. Tinha uma vitalidade leonina e mãos de fada para a culinária.
Silvana, a filha mais velha do casal, nove anos mais velha do que a irmã, Juliana, desde menina, tinha sonhos de grandeza. Casara-se com Cirineu Rosa aos dezesseis anos, porque acreditou que ele poderia realizar todos os sonhos que ela perseguia. O que não aconteceu, deixando a moça revoltada e infeliz. Moravam num sítio vizinho ao do pai, na companhia dos dois filhos: Benedita, de quase nove anos de idade e Aparecido, de oito.
Juliana, por sua vez, aos dezessete anos de idade era uma jovem tipicamente camponesa. Solidária e prestativa. Com ambições bem mais modestas que as da irmã. Era bem feita de corpo, os cabelos, lisos, divididos ao meio, num tom castanho, da cor dos olhos, caíam sobre seu ombros, de forma harmoniosa. No todo, ela era muito graciosa.

***
Após o almoço na casa da família da Silva, Juliana, como sempre, ajudava a mãe a tirar a mesa, lavar e secar a louça. Depois a ajudava a fazer pão, geleia, manteiga, doces de compota, arroz-doce, bolinhos de chuva, garapa, cada dia, enfim, uma gostosura para saborearem. Neste dia em especial, mãe e filha fizeram pão caseiro. O único disponível na região, uma vez que não havia padarias por lá.
Por volta das três horas da tarde, enquanto a travessa de pães assava no forno à lenha, Vicentina e a filha foram descansar um pouco na pequena e modesta varanda que ficava do lado direito da casa. A filha sentou-se na rede e a mãe, na cadeira de balanço construída pelo próprio pai, única herança deixada para ela, por isso a preservava com muito carinho.
Era naquela modesta varanda que mãe e filha falavam com empolgação sobre os livros que liam, retirados na pequena e humilde biblioteca da escola, montada por uma rica fazendeira da região. A mãe contava também para a filha, trechos do seu passado, de sua infância e sua adolescência querida.
Cerca de meia hora depois, Silvana chegou, mas Vicentina e Juliana estavam tão entretidas na conversa que levaram um bocadinho de tempo para notarem sua chegada.
– Silvana! – exclamou Vicentina, ao ver a filha parada próximo à varanda.
– Olá, mamãe. – respondeu Silvana com secura.
– Não a tinha visto aí. Chegou faz tempo?
– O tempo suficiente para ouvir os últimos relatos.
A mãe foi até ela dar-lhe as boas-vindas.
– Como vai, Silvana?
Silvana lançou-lhe seu olhar sisudo e evitou, como sempre, que sua mãe a beijasse.
– Indo. – respondeu Silvana com profundo desagrado. – Cadê o papai?
– Na roça. E seu marido, como vai?
– Cirineu?! Bem.
Juliana cumprimentou a irmã a seguir, mas Silvana a tratou como um inseto incômodo a rodear sua cabeça. Ignorou as boas-vindas e disse:
– Quando eu era menina, a senhora não costumava me contar histórias como faz com Juliana.
– Eu tentava, mas você nunca se interessava por elas.
– Sei...
Silvana mediu a irmã de cima a baixo antes de perguntar:
– Esse vestido seu é novo, Juliana?
– Não, Silvana. Você já me viu usando ele diversas vezes.
Silvana aproximou-se da irmã e pegou o tecido.
– O tecido dele é dos bons. Não me lembro de tê-la visto usando-o antes.
– Deve ter se esquecido.
– Quando eu tinha a sua idade eu raramente ganhava um vestido novo, com você já é diferente. Mamãe gasta todas as suas economias para fazer um para você.
– Isso não é verdade. – defendeu-se Vicentina.
– É verdade, sim. Ora, não se faça de sonsa, mamãe.
– Silvana, respeite-me.
– Sejamos francas, mamãe. A senhora sempre gostou mais da Juliana do que de mim, não é mesmo?
– Filha, amor de mãe...
– Por que a senhora insiste em negar? É, sim. Juliana foi sempre mais paparicada do que eu.
– Eu sempre tratei você do mesmo modo.
– Quando? Juliana é a filha mais querida e ponto final.
Vicentina estendeu a mão direita para frente e pediu à filha:
– Aperte qualquer um dos meus dedos e todos vão doer do mesmo modo. Filhos são como dedos.
– Não são. Uns são mais queridos que os outros e ponto final.
– Ora, ora, ora, Silvana. Por acaso você gosta mais da sua filha, Benedita, do que do seu filho, Aparecido?
– É diferente, filho e filha são diferentes.
– Que nada.
– Eu não me importo que a senhora goste mais da Juliana do que de mim. Juro que não me importo. Só queria que a senhora assumisse isso diante de todos.
– Você está sempre procurando pelo em ovo, Silvana. Sempre procurando algo para cutucar, levar à discórdia. Você puxou demais as minhas duas irmãs.
– Aquelas duas solteironas, gagás? Eu pelo menos me casei. Tenho meus filhos.
– Agradeça a Deus por tudo isso. Veja o quanto você foi abençoada.
Silvana fez outro bico de descaso. Houve uma breve pausa até que ela se voltasse para Juliana e dissesse, no seu tom mais ácido:
– E você, Juliana, quanto tempo mais vai levar para arranjar um pretendente?
– Tenho apenas dezessete anos, Silvana, sou ainda muito moça para me casar.
– Moça?! Vê lá, hein? O tempo passa voando... Se eu fosse você dava um jeito de fisgar um marido e o mais rápido possível, antes que acabe solteirona como nossas duas tias.
Juliana e Vicentina se olharam. Não foi preciso dizer nada, falaram-se pelo olhar. Silvana disse a seguir:
– Encontrei com dona Cremilda ontem à tarde na cidade, ela perguntou da senhora, mandou-lhe lembranças.
– Estimo.
– Não entendo como o marido dela pôde ter se casado com ela! Uma mulher bem mais velha do que ele, feia e enrugada!
– Não é bonito dar mais idade às pessoas do que elas realmente têm, Silvana!
– Mas ela parece bem mais velha do que o marido, ora!
– Não parece não. Isso é coisa da sua cabeça.
– Parece, sim. A senhora é que gosta de pôr panos quentes nas coisas.
No minuto seguinte, Juliana pediu licença para a mãe e para a irmã para ir colher algumas flores. Silvana ficou na janela da cozinha, observando a irmã, seguindo o caminho que levava ao canteiro de flores que era sempre muito bem cuidado por ela e pela mãe.
– Lá vai ela, a filhinha querida da mamãe, colher florzinhas para encher os vasos da casa. – debochou Silvana.
Vicentina fingiu não ouvir, se dissesse alguma coisa, acabaria se desentendendo com a filha, como sempre acontecia quando ela desdenhava Juliana. Vicentina sabia que Silvana fazia aquilo de propósito só para ter um bom motivo para brigar. Adorava uma discussão, uma afronta. Parecia ter prazer com aquilo.
Para não desandar a harmonia entre as duas, Vicentina sugeriu:
– Agora sente-se aqui e coma uma fatia do pão que acabei de assar com esse cafezinho preto, bão, que acabei de coar. Esta manteiga está uma delícia.
A filha acatou a ordem da mãe.
Logo depois, Juliana voltou trazendo um lindo buquê de flores que arranjou com muito jeitinho num dos vasos da casa.
– Não ficou lindo? – perguntou à mãe e à irmã.
Vicentina respondeu que sim. Silvana torceu o nariz.
Depois de saborear fatias do pão quentinho com manteiga caseira, Juliana pediu licença para ir dar a sua volta habitual pelos arredores do sítio.
Licença concedida.
Silvana disse a seguir:
– Juliana não deveria andar sozinha por aí, vai que acontece alguma coisa de ruim com ela.
– Ora, ora, ora, Silvana. O que poderia acontecer a sua irmã num lugar pacífico como este?
– Tantas coisas... Um maluco pode cruzar o caminho dela, agredi-la, estuprá-la, até mesmo matá-la. Se ela precisar de socorro ninguém vai poder socorrê-la, pois por mais que ela grite, dependendo da distância, ninguém daqui vai conseguir ouvi-la.
As palavras de Silvana assustaram Vicentina. De certo modo, ela tinha razão.
Silvana continuou destilando veneno:
– Ela pode ser atacada por um animal feroz, um cão enlouquecido. Pode torcer o pé, escorregar num dos barrancos... Só fico imaginando o que aconteceria com a senhora se alguma coisa de ruim acontecesse a sua filhinha do coração.
– Nada disso vai acontecer a Juliana.
– Se acontecesse comigo a senhora não daria a mínima, não é mesmo?
– Não diga tolices, Silvana.
– É verdade, confesse, para que mentir? Se algo de ruim me acontecesse, a senhora não sentiria tanto quanto sentiria se fosse com a sua filhinha adorada.
As provocações de Silvana esgotaram a paciência de Vicentina.
– Quer saber de uma coisa? – explodiu a mulher. – Eu realmente não sentiria nada se algo de ruim lhe acontecesse. É isso que você quer ouvir, não é? Pois bem, ouviu, está contente agora?
– Eu sabia! – exclamou Silvana, triunfante. – Eu sabia que era verdade.
– Você não passa de uma menina invejosa e ranheta, Silvana. Que você não passe nas mãos dos seus filhos o mesmo que eu estou passando nas suas mãos.
– Não passarei e sabe por quê? Porque amo os dois da mesma forma, com a mesma intensidade.
– Será mesmo?
– Está duvidando de mim?
– Estou do mesmo modo que você duvida dos meus sentimentos por você.
O clima pesou no recinto, mas foi breve, Vicentina logo quebrou o gelo:
– Quer provar um bocadinho do doce de cidra que eu fiz esta manhã? Está do jeito que você gosta.
Silvana não resistiu, aceitou.


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No contagiante verão da Europa, Ludvine Leconte leva a amiga Barbara Calandre para passar as férias na casa de sua família, no interior da Inglaterra, onde vive seu pai, viúvo, um homem apaixonado pelos filhos, atormentado pela saudade da esposa morta ainda na flor da idade.
O objetivo de Ludvine é aproximar Bárbara de Theodore seu irmão, que desde que viu a moça, apaixonou-se por ela.
O inesperado então acontece, seu pai vê na amiga da filha a esposa que perdeu no passado. Um jogo de sedução começa, um duelo entre pai e filho tem início.
De repente, um acidente muda a vida de todos, um detetive é chamado porque suspeita-se que o acidente foi algo premeditado. Haverá um assassino a solta? É preciso descobrir antes que o mal se propague novamente.
Este romance leva o leitor a uma viagem fascinante pelo mundo do desejo e do medo, surpreendendo a cada página, deixando-o ansioso para saber o final.


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Parte 1
Deus fala conosco, muitas vezes, por meio dos sonhos...

1
Teodora sentiu um frio na barriga ao virar à esquerda na quadra seguinte. Chegou a pensar em pôr o pé no breque, dar marcha a ré e voltar, mas algo dentro dela a deteve: o sonho.
O mesmo sonho vinha se repetindo há meses. Depois de muito refletir a respeito dele, chegou à conclusão de que era um aviso do Além, para que ela procurasse as duas mulheres que haviam se tornado tão especiais em sua vida e com as quais perdera o contato. Estariam ainda vivas? Talvez não. Tanta gente parte em trinta e cinco anos. Em breve, ela teria a resposta. Faltava pouco agora para ela chegar ao local onde a vida unira as três.
O lugar se aproximava, o número das casas por onde o carro passava ia em ordem decrescente, como se fosse a contagem regressiva de fim de ano: 8, 7, 6, 5...
“Meu Deus!”, exclamou Teodora, incerta novamente quanto a prosseguir. “É melhor voltar, desistir, enquanto há tempo. Para que remexer no passado?”
Voltar para lá era o mesmo que voltar a um passado do qual ela não fazia questão de se lembrar, mas fizera parte dela.
Seria melhor pisar fundo no acelerador, o quanto antes, e passar reto pelo local. Fora uma tolice querer voltar lá.
Nem bem Teodora tomou a decisão, o sonho voltou a ocupar sua mente de novo. Junto dele veio uma onda de calor, um misto de alegria e tristeza ao mesmo tempo.
“Deixe-me em paz”, suplicou ela, como se o sonho fosse uma entidade. “Deixe-me em paz, desapareça, já, o quanto antes... Já não era fácil viver antes de você aparecer, agora, então... Vamos, por favor, desapareça, deixe-me em paz!”
Teodora estava tão imersa em seus pensamentos que por pouco não atropelou um menino que corria para o meio da rua a fim de apanhar a bola de capotão com que treinava para ser, no seu sonho mais íntimo, um grande jogador de futebol.
Teodora pisou no breque com tanta força que o carro chegou a ranger no asfalto.
O garoto voltou seus olhos vivos, pretos como duas jabuticabas, para a motorista do carro e sorriu para ela, um sorriso tomado de dentes cariados.
Teodora, ainda em pane pelo que poderia ter acontecido à pobre criança, saltou de dentro do carro e foi até ela.
– Você está bem? – perguntou, aflita.
O menino respondeu que sim, com um ligeiro balançar da cabeça, e, num rodopio, saiu chutando a bola com a ligeireza de um craque.
– Desculpe, eu não queria... – tentou explicar Teodora, mas o garoto nem sequer ouviu o que ela dizia, estava tão concentrado na bola que tudo mais lhe era invisível.
Só então, Teodora prestou melhor atenção ao menino. O modo como ele estava vestido revelava sua precária condição social. Estava descalço e trajava apenas um short encardido, surrado e rasgado na altura do bumbum, revelando que ele não fazia uso de cueca.
Tal visão lembrou Teodora do quanto ela odiava a miséria e de tudo o que fizera para escapar dela ao longo da vida.
Quando voltou a si, percebeu-se transpirando fortemente. Limpou a testa com um lenço e voltou para o carro. Quando ela ia entrando no veículo, percebeu que havia parado, sem querer, em frente ao local que procurava, o lugar onde ela vivera toda sua infância e adolescência: o orfanato Santa Clara. Comandado por freiras, abrigava somente meninas, cerca de 170 delas na década de quarenta.
Teodora sentiu um frio percorrer-lhe a espinha. A seguir, uma onda de calor ecoou por todo o seu corpo, provocando-lhe uma alegria envolta de tristeza. Era uma emoção estranha, que não soube definir.
Seus olhos ficaram presos ao portão que dava acesso ao orfanato. Talvez tivesse sido reformado e, por isso, mantinha-se em tão perfeitas condições como no passado. Observando mais atentamente o lugar, tudo o mais por ali parecia o mesmo de trinta e cinco anos atrás. As árvores da calçada, as flores do canteiro aos pés do muro, o próprio muro...
– Meu Deus, até parece que foi ontem... – murmurou Teodora, em meio a um suspiro. – Até parece que foi ontem que atravessei esse portão para nunca mais voltar.
Uma lágrima brilhou entre seus cílios castanhos. E uma leve brisa agitou seus cabelos castanhos e anelados caídos por sobre os ombros.
Sem perceber, Teodora escorou-se contra o carro que alugara assim que chegara à cidade, para ir ao orfanato, e foi se deixando levar pelas lembranças do que vivera desde que seus pais a deixaram no Orfanato Santa Clara, numa noite fria do inverno de 1945. Ela tinha apenas um mês de vida.

2
É lógico que Teodora se lembrava muito pouco do que aconteceu nos seus quatro primeiros anos de vida. Recordava-se dos fatos, a partir do momento em que completara quatro anos de idade. Dela correndo com as demais meninas do orfanato, as quais se chamavam, carinhosamente, de irmãzinhas. Dela correndo por entre as freiras que tomavam conta do lugar, ouvindo algumas delas chamarem sua atenção ou insistindo para que ela comesse toda a sopa e o mingau. Ao lado dela e das demais, fazendo as orações do dia.
Eram lembranças fragmentadas, como peças de um quebra-cabeça que, quando separadas, parecem não ter ligação alguma, mas, quando juntas, formam uma bela figura.
Voltou, então, à mente de Teodora, a figura de Lira, a garotinha que veio a se tornar sua irmãzinha mais querida do orfanato. As duas eram inseparáveis. Andavam e brincavam de casinha sempre juntas, como se uma fosse a sombra da outra. No refeitório, também se sentavam lado a lado. E o que uma comia a outra também comia. Ambas se adoravam, amavam-se, incondicionalmente. Nos dias de tempestade, chegavam a dormir na mesma cama, agarrada uma à outra.
– Lira... amada Lira – murmurou Teodora, enquanto seus olhos derramavam as lágrimas que só a saudade sabe derramar.
Lira possuía olhos verdes, grandes e profundos, e um sorriso angelical. Estava sempre disposta a ouvi-la. Achava interessante tudo o ela tinha a lhe contar. Correr com ela pelo imenso jardim que cercava as dependências do orfanato, um jardim repleto de roseiras e pés de bico-de-papagaio, dama-da-noite, arruda, fícus... Por onde as borboletas brincavam, os beija-flores saciavam o seu desejo de beijar e os passarinhos se reuniam para fazer uma grande folia, verdadeira balbúrdia em meio a sua ardida sinfonia.
Um jardim bem cuidado por seu Otacílio, um doce de homem, sempre sorridente e paciente para com as meninas.
A vida no orfanato ao lado de Lira era o que se poderia chamar de vida no Paraíso, percebeu Teodora muito tempo depois. Uma vida que poucas crianças têm a oportunidade de conhecer.
O afeto que Teodora nutria pela menina e Lira por ela era admirável aos olhos de todos, exceto aos de Irmã Jandira, mulher de porte austero, barriguda, que dispensava boa parte do seu dia para recriminar as duas amigas inseparáveis.
– Vocês precisam se desgrudar! – dizia. – Até parece que foram coladas uma à outra. Vocês têm de aprender a brincar com as outras meninas também, ouviram?
E, impondo mais força à voz, a Irmã repetia a pergunta:
– Ouviram?!
E as duas meninas respondiam humildemente:
– Sim, senhora.
No entanto, por mais que Irmã Jandira forçasse Teodora e Lira a brincarem com as outras meninas, mais elas se distanciavam delas, especialmente de Ivone e Conceição.
Ivone era uma garotinha de pele morena, quase jambo, tinha cabelos escuros em caracóis e a voz estridente, quase um soprano.
Conceição era pele e osso, parecia completamente desnutrida, mas era forte como um touro. Tinha uma energia que parecia não ter fim. Era o que muitos apelidam de moleca. Tinha a pele negra, cabelos e olhos vivos e bonitos.
Tal como Teodora e Lira, Conceição e Ivone andavam sempre juntas, porém brincavam com todas as meninas de sua idade que havia no orfanato, sem excluir nenhuma, diferente de Teodora e Lira.
Ninguém sabe precisar ao certo quando foi que Conceição e Ivone descobriram que havia algo mais divertido do que as brincadeiras para entreter seu tempo. Elas descobriram que importunar Lira e Teodora, atazanar seria a palavra mais adequada para descrever a atitude de ambas em relação às duas meninas, era a coisa mais divertida do mundo.
As duas molecas atazanavam as duas meninas, pregando-lhes os piores sustos. Saltavam de trás das portas, arbustos ou pilares que havia pelo orfanato e gritavam: “bu!” Em seguida, gargalhavam de forma debochada e histérica da cara das duas.
Faziam-lhes as mais feiosas caretas, desdenhavam de suas brincadeiras, davam nós em seus pijamas. Punham cola na cadeira em que elas estavam prestes a se sentar. Além disso, beliscavam-nas e puxavam-lhes o cabelo. Elas eram literalmente terríveis para com as duas.
Logicamente, com isso, Teodora e Lira passaram a odiar Ivone e Conceição e, quanto mais demonstravam seu ódio por elas, mais e mais Conceição e Ivone se viam atiçadas a atormentar as duas.
Teodora e Lira também passaram a odiar Irmã Jandira por ela estar sempre implicando com as duas, querendo separá-las.
Ao contrário de Irmã Jandira, que vivia ditando ordens, procurando encontrar falhas onde não havia, nos trabalhos e serviços prestados por colegas, funcionários e órfãs, havia Irmã Wanda, a qual Teodora amava imensamente. Era uma Irmã muito doce e gentil para com todas as meninas, mas Teodora sabia, assim como as demais Irmãs, que Wanda tinha um carinho especial, uma paciência e uma atenção redobrada para com ela. Até o tom que Irmã Wanda usava para falar com a pequena Teodora era mais ponderado e o beijo de bom-dia e boa-noite, mais demorado.
A lembrança da Irmã querida trouxe novas lágrimas aos olhos de Teodora. Um sorriso triste e, ao mesmo tempo, feliz, alteou o canto dos seus lábios. Saudade e alegria dançavam juntas dentro dela agora.
Teodora lembrou a seguir da época em que Irmã Wanda reunia todas as meninas do orfanato para montar a árvore de Natal. Cada uma tinha o direito de pendurar um enfeite e, quando o fizesse, devia pedir paz e saúde para todos, aconselhava a Irmã.
Em seguida, organizava-se o presépio, composto de diversas peças em gesso, lindamente pintadas à mão, algo raro de se ver nos dias de hoje. Era divertido espalhar a areia por sobre o caixote de madeira, feito por seu Otacílio, e depois plantar o arroz em casca que, regado todo dia, florescia às vésperas do Natal, deixando o presépio todinho verde, como se fosse um campo lindo de trigo em miniatura. Era um momento de grande festa e alegria.
Ah, o Natal era, sem dúvida alguma, a época mais aguardada por todas as meninas que residiam no orfanato, não pelos presentes, já que não os havia, mas pelas atividades que a festividade trazia a todas. O máximo que recebiam como presente de Natal era um punhado de balas, dado a cada uma por Irmã Dulce, que todo ano se vestia de Papai-Noel, usando uma barba longa de algodão e um roupão vermelho de cetim, reluzente. Para a meninada não havia presente melhor do que aquele, além da festança com comes e bebes ao longo do dia.
Era Irmã Wanda também quem ensaiava o coral de Natal, apresentado às vésperas do dia 25 de dezembro, para os diretores do orfanato e todos aqueles que faziam doações mensais para sustentar o lugar. A maioria dos convidados levava seus familiares para assistir ao evento, deixando o grande salão onde ocorria a apresentação tomado de pessoas.
Wanda considerava Lira e Teodora as vozes mais bonitas e afinadas do coral e pedia as duas, muitas vezes, para cantarem para ela em particular. A doce Irmã parecia se deliciar e se desligar do mundo diante da cantoria das duas pequeninas, deixando Teodora e Lira imensamente felizes por poderem propiciar a adorada Irmã tamanha alegria.
Muitas irmãs se deliciavam também com a cantoria das duas, exceto Irmã Jandira. A voz da dupla a irritava profundamente. Tão irritada ficava que chegava a pedir, aos berros, para que as duas fechassem a matraca. Era-lhe preferível ouvir um leiloeiro gritando numa quermesse “Quem dá mais? Quem dá mais?! Eu ouvi trinta, eu ouvi quarenta? Quem dá mais?!” a ouvir as duas soltando a voz.
É, nem tudo eram flores na vida do orfanato. Como em todo lugar, há sempre alguém procurando perturbar a harmonia e a felicidade alheia.
Nem na época do Natal, Ivone e Conceição deixavam Teodora e Lira em paz. Continuavam importunando as duas meninas sem dó nem piedade. Caçoavam da cantoria das duas, fazendo-lhes fusquinhas, beliscando-lhes os braços, puxando-lhes as tranças dos cabelos, embrenhando-se embaixo da mesa em que elas se sentavam no refeitório para amarrar, sem que notassem, os cadarços de seus sapatinhos um ao outro, para que, quando levantassem, tropeçassem e fossem ao chão. Era uma afronta sem fim as duas pequenas e a maior diversão para Ivone e Conceição.
Com isso, é claro, o ódio aumentou no coração de Teodora e Lira. Especialmente no coração de Teodora, a ponto de ela desejar a morte das duas garotas. Teodora e Lira passaram a rezar, literalmente, todo dia, em determinada hora, para que as duas desaforadas, como ela as chamava, morressem.
– Querida Nossa Senhora, por favor, faça com que Ivone e Conceição morram e o mais breve possível. Só assim eu e Lira ficaremos em paz. Por favor. Amém.
Um dia, Irmã Wanda ouviu as meninas rezando pela morte das duas inimigas e tratou imediatamente de repreender seu gesto.
– Prestem bem atenção no que vou lhes dizer. Muita atenção! – disse a Irmã, num tom austero, completamente fora do habitual.
As duas meninas olharam para a Irmã, assustada. Jamais ela havia lhes falado naquele tom, muito menos tivera aquela expressão tão grave no rosto. Ambas fizeram grande esforço para não chorar.
– Vocês não devem desejar mal ao próximo, jamais! – continuou Irmã Wanda. – Muito menos desejar que uma pessoa morra. Vocês gostariam que alguém lhes desejasse o mesmo? Gostariam?!
Teodora engoliu em seco mais uma vez antes de desabafar:
– Mas Ivone e Conceição são ruins para Lira e para mim. Estão sempre fazendo fusquinha para nós! Mostram a língua, fazem caretas, puxam nossos cabelos, pregam-nos sustos. Chamam-nos de apelidos de que não gostamos.
– Ainda assim não é motivo para vocês desejarem a morte delas.
– Não?!
– Não.
Wanda respirou fundo, com dificuldades, por causa da bronquite que vez ou outra a atacava, principalmente quando ficava nervosa. Completou:
– Enquanto vocês duas continuarem se aborrecendo com as pirraças daquelas duas, mais e mais elas vão chateá-las. No entanto, se vocês duas não derem mais trela para o que lhes fazem, elas logo se cansarão de importuná-las. Compreenderam?
As duas meninas se entreolharam sem saber ao certo o que responder. Irmã Wanda, arquejando de falta de ar, acrescentou seriamente:
– Vocês podem e devem tentar ser amigas.
Ser amiga de Ivone e Conceição seria a morte para ela, pensou Teodora. Seria o mesmo que ser forçada a engolir um pedaço de berinjela refogada, algo que só de ver lhe embrulhava o estômago.
Para Lira, seria tal como ser forçada a engolir uma colherada de abacate amassado, ou um ovo estrelado, que também lhe causavam ânsia só de olhar.
– Vou conversar também com Conceição e Ivone para que elas tomem modos – acrescentou Wanda, seriamente.
– Eu não quero ser amiga delas! – explodiu Teodora, rompendo-se em lágrimas. – Elas são feias, desengonçadas. Conceição é preta e beiçuda. Eu não gosto de menina beiçuda!
– Aprenda a gostar! – revidou Irmã Wanda, erguendo a voz, surpresa com a reação da menina.


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A outra face do amor



PRÓLOGO
A São Paulo dos anos trinta não era uma megametrópole como é a São Paulo dos dias de hoje, todavia era uma cidade suntuosa, que prosperava cada vez mais e tornava-se uma das cidades mais importantes do mundo.
A avenida principal de São Paulo, nessa época, já era, assim como nos dias de hoje, a Avenida Paulista. Entretanto, ao invés dos elegantes e modernos arranha-céus da atualidade, a avenida era ladeada por casarões, verdadeiras mansões, propriedade dos donos das grandes fazendas que produziam café. Os “donos do café”, como eram chamados na época. Pessoas que enriqueceram com o auge da venda do café no Brasil.
Eram casas de arquitetura deslumbrante, um verdadeiro espetáculo para os olhos. Nelas moravam famílias que se tornaram ilustres e parte da nata da sociedade paulistana.
Hoje, pouco se vê de seu passado pela atual Avenida Paulista, todavia, é nessa São Paulo dos anos trinta, que se passa nossa história. Sob o manto do deslumbre que essa avenida causava a todos que ali chegavam...

Leia parte do CAPÍTULO 1

SÃO PAULO, JUNHO DE 1939

O tempo estava muito quente para aquela época do ano em São Paulo. Na praça João Mendes surgiu uma mulher alta, que caminhava com vivacidade em direção à Igreja de São Gonçalo. Usava um lindo e elegante chapéu de feltro, na cor preta, que combinava primorosamente com a saia e a blusa em tom uniforme que vestia seu corpo.
– Preciso me confessar... – repetia em intervalos cada vez mais curtos. – A confissão liberta.
Ao passar por uma floricultura, o dono olhou com interesse para as costas da dama, elegantemente vestida, com porte de mulher da alta sociedade. Seguiu-a com o olhar por um ou dois minutos e comentou consigo “Essa aí é uma das ricaças da sociedade paulistana...”. Franzindo o cenho, acrescentou: “Muito estranho... uma mulher dessa estirpe por aqui a essa hora?... Onde estará indo?”. Só então deu continuidade ao seu trabalho.
A caminho do seu destino, a elegante mulher, de tão perdida em pensamentos, colidiu com um garoto que vinha pela calçada na direção contrária. O choque entre os corpos a trouxe de volta à realidade. Ela tratou logo de pedir desculpas. O garoto, sorridente, desculpou-se também:
– Não foi nada, dona.
A dama tomava o caminho que levava à entrada da igreja, quando mudou de ideia. Seria melhor entrar por uma das portas laterais, pensou, para evitar que a vissem. Assim ela fez. Adentrou o local, de forma discreta, e parou para observar a abóbada com a imagem de Nossa Senhora dos Jesuítas.
Ela, então, moveu-se, quebrando o silêncio com seus passos discretos para evitar que o eco chamasse a atenção dos que ali estavam a rezar.
Um padre, ajeitando flores num dos vasos diante de uma imagem de Nossa Senhora parou o que fazia assim que percebeu a presença da elegante mulher. Quando seus olhos se encontraram com os dela, estremeceu. Nunca, na vida toda, até onde se lembrava, vira tanta tristeza nos olhos de uma dama. Caminhou até ela, procurou sorrir e perguntou:
– Posso ajudá-la em alguma coisa?
Os olhos dela abriram-se de aflição. O padre tornou a perguntar:
– Posso ajudá-la em alguma coisa?
Ela moveu os lábios sem nada dizer. Ele procurou encorajá-la com os olhos. Por fim, parecendo ter grande dificuldade para falar, ela disse:
– Sim, padre, preciso de sua ajuda.
– A senhora me parece aflita...
– E estou. Se possível, quero me confessar.
Outra surpresa para o padre, jamais, na vida toda, encontrara uma mulher de classe, como aquela, tão desesperada para fazer uma confissão.
Indicando o caminho que levava até o confessionário, ele disse:
– Por aqui, por favor.
Ela o seguiu, olhando volta e meia para os lados para ver se não havia ninguém por perto que fosse conhecido seu.
Assim que o padre se ajeitou dentro do confessionário, ela ajoelhou-se no genuflexório ao lado e olhou com temor e ansiedade para a janelinha do lugar. Sua respiração estava pesada naquele momento, era como se sofresse de profunda falta de ar. Percebendo sua dificuldade, o padre decidiu ajudá-la.
– Pode começar sua confissão, filha, sou agora os ouvidos de Deus.
O silêncio permaneceu. A respiração pesada pareceu se tornar ainda mais pesada.
– Tenha calma, filha...
– Padre. – disse ela, enfim, com a voz entrevada.
– Sim, filha...
Ela tornou a emudecer, levou quase dois minutos até que dissesse:
– Padre, eu nem sei como dizer... estou com tanto medo...
– Calma, filha. Por isso que a confissão é uma bênção, porque ela nos liberta.
– Eu preciso me libertar, padre.
– Deus a libertará.
– De qualquer ato indevido que eu tenha feito?
– Sim, pois Deus tudo perdoa...
– Não sei se Ele poderá me perdoar dessa vez, padre.
– Ele é misericordioso.
Ela tomou ar e, com grande dificuldade, falou:
– Padre, eu... – nova pausa, o tom de voz mudou ao dizer: – é melhor eu ir embora, foi uma tolice da minha parte ter vindo aqui. Nada pode me libertar do que fiz.
– Não subestime o poder de Deus, minha filha. Vamos lá, desabafe, será melhor para você.
– O senhor não entende, padre. Eu... eu matei uma mulher.
As sobrancelhas do homem arquearam-se.
– É isso mesmo o que o senhor ouviu, padre. – enfatizou a dama. – Eu matei uma mulher. Da mesma idade que a minha. Sou uma criminosa, padre! Uma assassina. E os assassinos não têm perdão, não é mesmo? Sei que não têm. Pois a ninguém é dado o direito de tirar a vida do próximo.
O padre procurava dentro de si o que dizer, mas o baque da confissão calava-lhe a voz.
– É melhor eu ir. – continuou ela. – Como disse: foi uma tolice eu ter vindo aqui. Eu sabia, o tempo todo, que não poderia me libertar do pecado que cometi.
– C-calma, filha. Como disse, Deus é misericordioso.
– Se Ele for misericordioso comigo que misericórdia Ele teria para com a mulher que foi vítima da minha maldade?
As palavras tornaram a se aglutinar na garganta do bom senhor.
– Obrigada, padre, por sua atenção.


Todos, no íntimo, querem viver um amor incondicional.
Até o momento, ao que parece, só os cães podem nos oferecer tamanha dádiva,
ensinar a todos a amar incondicionalmente para tornar os relacionamentos melhores e o mundo melhor.
Sejamos um a mais a favor da paz, um a menos a favor da violência.

Américo Simões

O livro "Amor incondicional" já emocionou muitos leitores e vem sendo elogiado por muitas pessoas, até mesmo por quem nunca parou para admirar um cão;
compreender o porque ele é chamado de melhor amigo do homem.

Passe essa mensagem para todos que querem fazer um mundo melhor!

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72 PGNS Coloridas com fotos dos maiores fotografos do mundo e um texto escrito com muito carinho sobre o melhor amigo do homem.
29,90 preço de capa. FORMATO 21 x 21 CM. Com orelhas de 11 cm e colorido no verso da capa e contracapa.