domingo, 11 de setembro de 2011



Livro "NENHUM AMOR É EM VÃO" LANÇAMENTO SETEMBRO DE 2011 - R$24,50. VISITE O SITE www.barbaraeditora.com.br

Primeira parte

A família de Valeriano da Silva era composta de quatro pessoas: o próprio Valeriano, sua esposa, Vicentina Santos da Silva, e as filhas Silvana e Juliana. Moravam no sítio de dez alqueires que Valeriano recebeu do pai, para garantir o seu sustento, após ele se casar com Vicentina. Terras produtivas, situadas às margens do rio Paranapanema, no estado do Paraná, Brasil.
Não havia nenhuma cidade nas proximidades, apenas um vilarejo chamado Lagoa Serena, onde havia uma farmácia, uma loja de secos e molhados, uma escola e uma igreja católica que todos os moradores das fazendas e sítios da região frequentavam, especialmente nas manhãs de domingo.
Valeriano era um homem batalhador. Não tinha tempo ruim com ele para trabalhar. Por não ter condições financeiras para contratar funcionários para ajudá-lo no sítio, ele próprio procurava dar conta de tudo que era necessário ser feito ali. Nunca estava de mau humor, tampouco cansado, tampouco abria a boca para reclamar da sobrecarga de trabalho.
Vicentina procurava ajudar o marido no que fosse preciso. Cuidava dos afazeres da casa e quando sobrava tempo, ajudava o marido na roça. Tinha uma vitalidade leonina e mãos de fada para a culinária.
Silvana, a filha mais velha do casal, nove anos mais velha do que a irmã, Juliana, desde menina, tinha sonhos de grandeza. Casara-se com Cirineu Rosa aos dezesseis anos, porque acreditou que ele poderia realizar todos os sonhos que ela perseguia. O que não aconteceu, deixando a moça revoltada e infeliz. Moravam num sítio vizinho ao do pai, na companhia dos dois filhos: Benedita, de quase nove anos de idade e Aparecido, de oito.
Juliana, por sua vez, aos dezessete anos de idade era uma jovem tipicamente camponesa. Solidária e prestativa. Com ambições bem mais modestas que as da irmã. Era bem feita de corpo, os cabelos, lisos, divididos ao meio, num tom castanho, da cor dos olhos, caíam sobre seu ombros, de forma harmoniosa. No todo, ela era muito graciosa.

***
Após o almoço na casa da família da Silva, Juliana, como sempre, ajudava a mãe a tirar a mesa, lavar e secar a louça. Depois a ajudava a fazer pão, geleia, manteiga, doces de compota, arroz-doce, bolinhos de chuva, garapa, cada dia, enfim, uma gostosura para saborearem. Neste dia em especial, mãe e filha fizeram pão caseiro. O único disponível na região, uma vez que não havia padarias por lá.
Por volta das três horas da tarde, enquanto a travessa de pães assava no forno à lenha, Vicentina e a filha foram descansar um pouco na pequena e modesta varanda que ficava do lado direito da casa. A filha sentou-se na rede e a mãe, na cadeira de balanço construída pelo próprio pai, única herança deixada para ela, por isso a preservava com muito carinho.
Era naquela modesta varanda que mãe e filha falavam com empolgação sobre os livros que liam, retirados na pequena e humilde biblioteca da escola, montada por uma rica fazendeira da região. A mãe contava também para a filha, trechos do seu passado, de sua infância e sua adolescência querida.
Cerca de meia hora depois, Silvana chegou, mas Vicentina e Juliana estavam tão entretidas na conversa que levaram um bocadinho de tempo para notarem sua chegada.
– Silvana! – exclamou Vicentina, ao ver a filha parada próximo à varanda.
– Olá, mamãe. – respondeu Silvana com secura.
– Não a tinha visto aí. Chegou faz tempo?
– O tempo suficiente para ouvir os últimos relatos.
A mãe foi até ela dar-lhe as boas-vindas.
– Como vai, Silvana?
Silvana lançou-lhe seu olhar sisudo e evitou, como sempre, que sua mãe a beijasse.
– Indo. – respondeu Silvana com profundo desagrado. – Cadê o papai?
– Na roça. E seu marido, como vai?
– Cirineu?! Bem.
Juliana cumprimentou a irmã a seguir, mas Silvana a tratou como um inseto incômodo a rodear sua cabeça. Ignorou as boas-vindas e disse:
– Quando eu era menina, a senhora não costumava me contar histórias como faz com Juliana.
– Eu tentava, mas você nunca se interessava por elas.
– Sei...
Silvana mediu a irmã de cima a baixo antes de perguntar:
– Esse vestido seu é novo, Juliana?
– Não, Silvana. Você já me viu usando ele diversas vezes.
Silvana aproximou-se da irmã e pegou o tecido.
– O tecido dele é dos bons. Não me lembro de tê-la visto usando-o antes.
– Deve ter se esquecido.
– Quando eu tinha a sua idade eu raramente ganhava um vestido novo, com você já é diferente. Mamãe gasta todas as suas economias para fazer um para você.
– Isso não é verdade. – defendeu-se Vicentina.
– É verdade, sim. Ora, não se faça de sonsa, mamãe.
– Silvana, respeite-me.
– Sejamos francas, mamãe. A senhora sempre gostou mais da Juliana do que de mim, não é mesmo?
– Filha, amor de mãe...
– Por que a senhora insiste em negar? É, sim. Juliana foi sempre mais paparicada do que eu.
– Eu sempre tratei você do mesmo modo.
– Quando? Juliana é a filha mais querida e ponto final.
Vicentina estendeu a mão direita para frente e pediu à filha:
– Aperte qualquer um dos meus dedos e todos vão doer do mesmo modo. Filhos são como dedos.
– Não são. Uns são mais queridos que os outros e ponto final.
– Ora, ora, ora, Silvana. Por acaso você gosta mais da sua filha, Benedita, do que do seu filho, Aparecido?
– É diferente, filho e filha são diferentes.
– Que nada.
– Eu não me importo que a senhora goste mais da Juliana do que de mim. Juro que não me importo. Só queria que a senhora assumisse isso diante de todos.
– Você está sempre procurando pelo em ovo, Silvana. Sempre procurando algo para cutucar, levar à discórdia. Você puxou demais as minhas duas irmãs.
– Aquelas duas solteironas, gagás? Eu pelo menos me casei. Tenho meus filhos.
– Agradeça a Deus por tudo isso. Veja o quanto você foi abençoada.
Silvana fez outro bico de descaso. Houve uma breve pausa até que ela se voltasse para Juliana e dissesse, no seu tom mais ácido:
– E você, Juliana, quanto tempo mais vai levar para arranjar um pretendente?
– Tenho apenas dezessete anos, Silvana, sou ainda muito moça para me casar.
– Moça?! Vê lá, hein? O tempo passa voando... Se eu fosse você dava um jeito de fisgar um marido e o mais rápido possível, antes que acabe solteirona como nossas duas tias.
Juliana e Vicentina se olharam. Não foi preciso dizer nada, falaram-se pelo olhar. Silvana disse a seguir:
– Encontrei com dona Cremilda ontem à tarde na cidade, ela perguntou da senhora, mandou-lhe lembranças.
– Estimo.
– Não entendo como o marido dela pôde ter se casado com ela! Uma mulher bem mais velha do que ele, feia e enrugada!
– Não é bonito dar mais idade às pessoas do que elas realmente têm, Silvana!
– Mas ela parece bem mais velha do que o marido, ora!
– Não parece não. Isso é coisa da sua cabeça.
– Parece, sim. A senhora é que gosta de pôr panos quentes nas coisas.
No minuto seguinte, Juliana pediu licença para a mãe e para a irmã para ir colher algumas flores. Silvana ficou na janela da cozinha, observando a irmã, seguindo o caminho que levava ao canteiro de flores que era sempre muito bem cuidado por ela e pela mãe.
– Lá vai ela, a filhinha querida da mamãe, colher florzinhas para encher os vasos da casa. – debochou Silvana.
Vicentina fingiu não ouvir, se dissesse alguma coisa, acabaria se desentendendo com a filha, como sempre acontecia quando ela desdenhava Juliana. Vicentina sabia que Silvana fazia aquilo de propósito só para ter um bom motivo para brigar. Adorava uma discussão, uma afronta. Parecia ter prazer com aquilo.
Para não desandar a harmonia entre as duas, Vicentina sugeriu:
– Agora sente-se aqui e coma uma fatia do pão que acabei de assar com esse cafezinho preto, bão, que acabei de coar. Esta manteiga está uma delícia.
A filha acatou a ordem da mãe.
Logo depois, Juliana voltou trazendo um lindo buquê de flores que arranjou com muito jeitinho num dos vasos da casa.
– Não ficou lindo? – perguntou à mãe e à irmã.
Vicentina respondeu que sim. Silvana torceu o nariz.
Depois de saborear fatias do pão quentinho com manteiga caseira, Juliana pediu licença para ir dar a sua volta habitual pelos arredores do sítio.
Licença concedida.
Silvana disse a seguir:
– Juliana não deveria andar sozinha por aí, vai que acontece alguma coisa de ruim com ela.
– Ora, ora, ora, Silvana. O que poderia acontecer a sua irmã num lugar pacífico como este?
– Tantas coisas... Um maluco pode cruzar o caminho dela, agredi-la, estuprá-la, até mesmo matá-la. Se ela precisar de socorro ninguém vai poder socorrê-la, pois por mais que ela grite, dependendo da distância, ninguém daqui vai conseguir ouvi-la.
As palavras de Silvana assustaram Vicentina. De certo modo, ela tinha razão.
Silvana continuou destilando veneno:
– Ela pode ser atacada por um animal feroz, um cão enlouquecido. Pode torcer o pé, escorregar num dos barrancos... Só fico imaginando o que aconteceria com a senhora se alguma coisa de ruim acontecesse a sua filhinha do coração.
– Nada disso vai acontecer a Juliana.
– Se acontecesse comigo a senhora não daria a mínima, não é mesmo?
– Não diga tolices, Silvana.
– É verdade, confesse, para que mentir? Se algo de ruim me acontecesse, a senhora não sentiria tanto quanto sentiria se fosse com a sua filhinha adorada.
As provocações de Silvana esgotaram a paciência de Vicentina.
– Quer saber de uma coisa? – explodiu a mulher. – Eu realmente não sentiria nada se algo de ruim lhe acontecesse. É isso que você quer ouvir, não é? Pois bem, ouviu, está contente agora?
– Eu sabia! – exclamou Silvana, triunfante. – Eu sabia que era verdade.
– Você não passa de uma menina invejosa e ranheta, Silvana. Que você não passe nas mãos dos seus filhos o mesmo que eu estou passando nas suas mãos.
– Não passarei e sabe por quê? Porque amo os dois da mesma forma, com a mesma intensidade.
– Será mesmo?
– Está duvidando de mim?
– Estou do mesmo modo que você duvida dos meus sentimentos por você.
O clima pesou no recinto, mas foi breve, Vicentina logo quebrou o gelo:
– Quer provar um bocadinho do doce de cidra que eu fiz esta manhã? Está do jeito que você gosta.
Silvana não resistiu, aceitou.

3 comentários:

  1. Oi Américo,
    Salve ! Namastê ! Saravá !
    Deixo aqui, no Dia de Ação de Graças, meu Agradecimento Eterno por este Livro..."Nenhum Amor é em vão"
    Nossa !
    Já encomendei outros 5 seus pela internet, acredito que tb Inspirados, pra eu me Trabalhar nesta Questão :)
    O Nenhum Amor é em vão está circulando já, o que comprei na sexta 18 e terminei de ler na segunda 21/11, com uma amiga e depois vai pra outra, e estou indicando pra 3 comprarem.
    Foi um Mega Presente Direto !!! Eu me Vi no livro MUITO !!!
    Que nosso Pai te Ilumine, Guie, Proteja e Abençoe sempre em sua Missão, Plano Divino e Resgates e em Suas Obras Literárias.
    Que Suas Palavras cheguem a muito mais corações e vidas.
    Que Miguel Arcanjo com sua Luz Dourada Irradie sempre sobre Teu Caminho !
    Namastê,
    Saravá,
    Com orgulho de ser umbandista,
    Helga Costa Marcos

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  2. Oi Américo, Salve Clara,

    Como poderia ter me esquecido ?

    Minha eterna gratidão a Clara... afinal... além de suas palavras, seus ensinamentos de tanta luz, o livro me chamou a atenção, numa loja do Mundo Verde pra comprar, também pelo seu nome em si, pois minha sobrinha mais nova se chama Maria Clara !!! Eu acho um LINDO nome.......... e tive a Dádiva do Espírito da Maria Clara, através de mim, "sugerir", na época, a minha irmã que o bebê, se menina, poderia ter Clara no nome. Inicialmente o nome escolhido pelos pais foi Bruna, mas, depois, a Maria Clara Escolheu definitavente seu nome pela sua irmã mais velha, Anna Carolina, 2 meses antes de nascer. No início, até eu chamava Maria Clara de Bruna, depois de nascida :) rs. Maria Clara tb é um Espírito muito Especial, uma Cristalzinha linda...

    Namastê,
    Salve !
    Muita Luz e Caminhos pra todos nós,
    Helga

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  3. Oi Américo!
    Quero agradecer à você e à Clara pelo belíssimo trabalho de ensinamento, esperança e amor que aprendi e vivenciei lendo esta obra. É maravilhoso como uma história real pode transformar nossas vidas, provando que realmente "nenhum amor é em vão". Por mais que, em determinado momento achamos que escolhemos o caminho ou a pessoa errada, no fundo precisamos passar por isso para nossa própria evolução. O livro é daqueles que você não consegue se desgrudar enquanto não ler a última página, para quem não leu, eu recomendo!! Entretanto, uma coisa me causou uma certa curiosidade, já que me aprofundei ao máximo na história, acredito que, Miguel Pabliano e Juliana da Silva, assim como todos os envolvidos e citados no livro, devem ser pseudônimos, não citando detalhes para aqueles que ainda não leram, eu achei o final do livro com um ar de "será"?? Gostaria muito de saber o que aconteceu com Miguel e Juliana (pois torcia por eles), após o último encontro, será que finalmente eles conseguiram superar tudo para ficarem juntos? Agradeço desde já a atenção depositada e aguardo possível retorno.

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