domingo, 11 de setembro de 2011



Livro "SEM AMOR EU NADA SERIA" LANÇAMENTO SETEMBRO DE 2011 - R$26,00. VISITE O SITE www.barbaraeditora.com.br

Capítulo 1

Viveck Shmelzer foi um dos muitos jovens alemães que se alistou ao partido nazista por acreditar que o nazismo poderia transformar a Alemanha num país mais próspero de se viver, imune a crise econômica que enfrentava devido a grande depressão que assolava o mundo nos anos trinta.
Ele, como muitos outros jovens alemães que se filiaram ao partido nazista, não faziam ideia do que era realmente o nazismo e onde ele os levaria. Eles só queriam um futuro melhor para si e para o país, onde pudessem prosperar e constituir família. Pouco se importavam com a existência de judeus, homossexuais, ciganos, testemunhas de Jeová, doentes mentais e crianças especiais sobre a Terra, mas foram obrigados a se voltar contra todos estes porque assim ordenava o nazismo.
Viveck Shmelzer era um rapaz no esplendor dos seus vinte e dois anos. Um metro e oitenta e oito de altura, porte atlético, tórax largo, cabelos de um loiro profundo, voz aveludada, um par de olhos azuis, como o azul das profundezas do mar.
O jovem soldado encontrava-se, no momento, na Cracóvia, cidade construída ao sul da Polônia, onde, em 1939, residiam 60.000 judeus. Um quarto da população total do país (250.000 habitantes nesta época) era composta de judeus.
Viveck havia sido enviado para lá para colher informações, sondar o terreno, como se diz, para que o exército nazista tivesse êxito no ataque ao país, algo que estava programado para acontecer em breve. Seria o primeiro passo de Hitler e suas tropas no propósito ambicioso de conquistar o mundo. O que daria início a Segunda Guerra Mundial.
Com ele fora também, Herbert Müller. Um rapaz de pele e cabelos tão claros que mais parecia um albino. Um jovem de QI apurado tanto quanto seu gosto refinado por mulheres.
Os dois caminhavam por uma das avenidas principais da cidade, jogando conversa fora, admirando com atenção os rostos das moças que transitavam pela rua. Moças cuja tez era tão clara e macia como uma seda, e os cabelos no tom do sol, ao cair da tarde. Rostos delicados, olhares tímidos, cheios de vida e juventude.
Viveck ria dos comentários pertinentes do amigo, Herbert Müller, a respeito das mulheres, quando seus olhos azuis, vivos e bonitos, avistaram uma jovem, saindo de uma loja de secos e molhados. Uma jovem que chamou muito a sua atenção.
Seu rosto era sensível e inteligente, a testa quadrada, as orelhas e o nariz de formato delicado, os cabelos de um loiro quase ruivo. Ela transparecia educação, contenção e algo mais, um potencial de paixão.
Subitamente, a risada alegre e efusiva de Viveck foi cortada ao meio. Em segundos, o rapaz se tornou a própria encarnação da curiosidade. Pediu licença ao amigo e seguiu na direção da jovem.
Herbert Müller levou tempo para compreender o que se passava com o colega.
Viveck aproximou-se, com cautela, da moça de beleza delicada, como se sua aproximação repentina pudesse assustá-la.
Quando ela avistou o rapaz loiro, de quase um metro e noventa, ombros largos, olhos azuis, penetrantes, vindo na sua direção, olhando para ela com interesse e carinho, seus olhos piscaram aflitos. Diante do seu olhar, Viveck deteve-se, quis deixá-la se acalmar antes de se aproximar, passou a mão no cabelo, procurou fazer ar de quem não quer nada. Por fim, aproximou-se.
– Olá – disse, com polidez.
A jovem observou-o com uma expressão nos olhos que ele jamais tinha visto, tampouco podia defini-la.
– Meu nome é Viveck. – apresentou-se, sorrindo, magnanimamente.
Nada mais que o silêncio por parte dela. Aquilo fez com que Viveck se sentisse constrangido, algo inédito, pois jamais uma mulher conseguira fazê-lo se sentir daquela forma.
– Posso ajudá-la a carregar as compras até sua casa? – prontificou-se ele, no seu tom mais gentil de se dirigir a uma mulher.
Ela abaixou os olhos, encabulada, enquanto ele permaneceu olhando para o seu rosto adorável, esperando que ela dissesse alguma coisa num tom tão doce e terno quanto o seu olhar. Como não disse nada, ele insistiu:
– Por favor, deixe-me ajudá-la.
Silêncio mais uma vez. Profunda indecisão por parte dela. Por fim, ela voltou os olhos para ele, com cautela, a mesma que usou para dizer:
– Foi muito gentil da sua parte vir até aqui se oferecer para me ajudar, mas obrigada, eu posso me virar sozinha.
Sua voz era delicada como o som de uma harpa, observou Viveck, encantado com os olhos presos aos dela, da mesma forma que os olhos dela se prendiam aos dele.
– Não receie a minha pessoa. – adiantou-se Viveck. – Nada de mal lhe farei. Não a conheço, ainda, mas só quero lhe fazer o bem. Acredite.
Suas palavras causaram grande surpresa na jovem, ela certamente não esperava por elas. Novamente o silêncio pairou entre os dois. Ele aguardou pensativo e pacientemente, ciente de que ela se perguntava naquele instante se deveria ou não confiar nele.
Os olhos dela voltaram a encarar os de Viveck, desta vez, porém, de forma bastante estranha, como se, de repente, ela houvesse sido invadida por uma tremenda tensão. E estava realmente tensa, por se ver perdida entre aceitar ou não a ajuda do rapaz que lhe era completamente estranho.
– Por favor. – tornou Viveck no seu tom de paz de sempre.
A jovem parecia continuar travando um duelo dentro de si, entre o “sim” e o “não”. Viveck parecia não se importar com a indecisão da moça, com o tempo que ela estava levando para se decidir. Mantinha-se ali, paciente, com o mesmo encanto no rosto, com a mesma determinação com que chegou até ela.
Depois de ela muito lutar foi o “sim” quem acabou vencendo no final, recolhendo o “não” as sombras. Quando Viveck viu os lábios dela se movendo para dizer “sim”, ele sentiu-se tocado na alma de forma jamais sentida, por mãos jamais conhecidas.
Ele, então, tomou duas sacolas das mãos dela e a seguiu.
Herbert Müller mantinha-se do outro lado da rua, olhando para o amigo, com um sorriso matreiro nos lábios, comentando consigo mesmo:
– É um sedutor nato.
Pela calçada, Viveck seguia calado, a jovem que tanto o tinha fascinado. Queria trocar algumas palavras com ela, mas esperou que ela dissesse alguma coisa, o que não aconteceu. As palavras só vieram quando eles chegaram em frente à casa da moça. Ela voltou-se para ele, com os olhos a ir e vir dos seus, e agradeceu a gentileza:
– Obrigada. Foi muito gentil da sua parte.
– Não há de que. – respondeu Viveck, seriamente.
Quando ele se aproximou dela para entregar-lhe as duas sacolas que carregara até então, ambos sentiram seus corpos se esquentarem como se uma chama houvesse sido acesa dentro de cada um deles, como uma febre que nos faz refém.
Os olhos dos dois se encontraram novamente e brilharam. Tornou-se evidente para ambos que haviam sentido alguma coisa se acender em seus corações naquele instante.
Um sorriso se insinuou nos lábios dele, o mesmo aconteceu nos lábios dela.
– Você deve ter percebido que não sou daqui... – disse ele. – Sou...
– Alemão. – adiantou-se ela. – Sim, percebi de imediato.
– Também... – riu, ele –, com esse meu sotaque carregado.
Ele escorregou a mão direita pelo pescoço, da altura do queixo até o Pomo de Adão, e acrescentou:
– Gostaria muito de poder revê-la, se possível... Se você quiser... se não se importar...
A resposta dela soou alta e precisa:
– É melhor não.
– Por quê?
– Alguns porquês não podem ser explicados.
– Pode me dizer pelo menos o seu nome?
Ela hesitou, mas disse:
– Sarah.
Ele sorriu, lindamente, e se despediu:
– Muito bem, Sarah. Foi um prazer conhecê-la. Até um dia, então...
Ela assentiu com o olhar, pegou as sacolas e entrou na casa. Viveck permaneceu ali, por alguns segundos, observando o caminho por onde ela havia seguido, inspirando o que restou do perfume dela pelo ar. Só então partiu de volta a rua onde havia deixado o amigo, esperando por ele. Seguiu todo o trajeto voltando, volta e meia, os olhos por sobre os ombros, na direção da casa de Sarah. Seu interesse pelo local era crescente, tão crescente quanto o interesse pela moça.
O rapaz assustou-se quando Herbert Müller aproximou-se dele, repentinamente e brincou:
– E aí, seu sedutor inveterado? Conquistou a moça?!
– Ainda não, Herbert!
– Não!? Ach! *Conseguiu pelo menos o nome dela, espero!
– Ah, o nome sim, é Sarah.
– Sarah?! – estranhou Herbert. – Sarah é um nome judeu bastante popular. Ela é judia, por acaso?
O sobrolho de Viveck alterou-se.
– Não. – respondeu secamente. – É lógico que não!
– Tem certeza?
– Não, mas ela não se parece em nada com uma judia. Judeus têm geralmente uma fisionomia bastante característica, o nariz é protuberante, tanto o dos homens quanto o das mulheres.
– Nem todos têm narigão, meu caro.
– É verdade, mas Sarah não é judia. Disso tenho certeza. Nunca me interessaria por uma judia.
– Espero mesmo que não. Seria um grande aborrecimento para você diante das circunstâncias atuais.

Um comentário:

  1. como todos os romances de americo e clara emocionante chorei muito lendo este romance maravilhoso e triste

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